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IDENTIDADE E AÇÃO CULTURAL NAS GOIABEIRAS

Fotos: Valber Firmino

Goiabeiras é uma comunidade formada na década de 1980 na Barra do Ceará, bairro localizado na extremidade oeste da capital cearense. Em um período de fortes enchentes, uma dezena de famílias desabrigadas pela chuva deslocou-se para as dunas mais próximas à foz do Rio Ceará em busca de melhores condições de moradia, formando a partir de então a chamada Comunidade das Goiabeiras. Assim como quase todas da zona costeira oeste da cidade de Fortaleza, ela foi ocupada massivamente por gente desassistida de moradia, gente que pela luta cotidiana foi garantindo uma dignidade mínima de vida ao conquistar direitos básicos como acesso à educação, transporte e saneamento básico.

A Barra do Ceará, por sua vez, conta com uma população de aproximadamente 75 mil habitantes, sendo pelo menos metade composta de trabalhadores informais, desempregados e assalariados com rendimento de até um salário mínimo. Hoje, o bairro é cenário de inúmeras histórias de pescadores, donas de casa, empregadas domésticas, costureiras, bodegueiros e vendedores ambulantes tais como os personagens de nossos filmes - Fabim, Daniel e Lázaro.

O Coletivo Pode Crer, em suas ações, têm constatado no território Goiabeiras inúmeras potências que podem ser vetores culturais para um desenvolvimento sustentável: sua localização geográfica contemplada por belas paisagens, os grupos culturais que aqui habitam e um crescente número de agentes criativos, em sua maioria jovens, que vêm desenvolvendo ações culturais. Ainda que relevantes as potências desse território, a comunidade ainda é estigmatizada por seus altos índices de violência. São discursos difundidos por veículos de comunicação de massa e pelos próprios habitantes. Em suma esses discursos culpabilizam os próprios moradores pela violência, o que diminui a autoestima e desagrega, mitigando a cooperação.

É imperativo, portanto, uma identidade cultural ao território que agregue grupos e agentes em torno de um desenvolvimento que contemple: o meio ambiente, os direitos humanos, a diversidade cultural, a inclusão social e o criativo. Identidade essa que considere: as relações sociais construídas, sua história de ocupação dos espaços, os conflitos e as cooperações já vivenciados, e finalmente o acúmulo de êxitos e fracassos que deram singularidade ao território. Não é portanto falsear uma identidade positiva “de mentira”, mas sim encarar o processo dialógico de construção dessa a partir do contato real com o território, considerando esse como base de onde emergiram referentes simbólicos que devem ser valorizados e/ou problematizados.

Acreditamos, assim, no desenvolvimento de uma metodologia de comunicação popular capaz de dialogar intimamente com essas pequenas comunidades, produzindo referentes simbólicos que as agreguem em torno de uma identificação maior, de uma comunidade maior: a do território.

Consideramos a cultura como sistema de significados construído historicamente, capaz de ordenar valores e comportamentos. A identidade territorial é um elemento cultural em disputa: para muitos a Goiabeiras se resume a violência e baixo IDH, para o coletivo e outros vários agentes da comunidade é território potente pelo qual seus moradores podem inovar, usar e articular recursos locais materiais e imateriais para se desenvolver em comunhão.  

A fruição estética vai além da apreciação do belo, constrói e/ou renova a percepção do espectador (ZILBERMAN, 1989). Questão importante é se essa percepção é capaz de problematizar e/ou valorizar os elementos culturais que circulam no cotidiano do espectador.

Nessa disputa pela identidade que se deseja, o audiovisual é bem cultural privilegiado capaz de gerar processos de identificação pessoal e comunitária, negando ou afirmando valores já internalizados pelo receptor a partir de uma experiência estética múltipla que apela simultaneamente para os vários sentidos humanos. É assim que o Cine Invazão, ao democratizar a produção audiovisual cearense e nacional e representar temas cotidianos através do documentário, estimula a identificação com nossos próprios problemas e potências, formando cidadãos críticos e protagonistas.

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